sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Danger Line - #29


Depois de conversar com Josette, enviei uma mensagem a Calardan pedindo para que ele me encontrasse na clareira para que nós pudéssemos conversar. Preciso aprender como lutar com um demônio ou não vamos sobreviver.
Estava caminhando para a clareira e Wolfgang veio me fazer companhia, o lobo me acompanhou até chegarmos à clareira e lá ele se deitou ao sol e eu aproveitei e encostei-me a ele para esperar o Calardan chegar para poder ouvir toda a sua história – incluindo as partes que o Paul está presente e fazendo o que não deve – para ter mais informações, preciso ter conhecimento de tudo que possa me ajudar. Já estava começando a divagar sobre esses assuntos quando percebi a presença de Calardan, ele esta próximo, e vinha saltando sobre os galhos das arvores – as vezes eu tenho vontade de ser um elfo também, só pra ter essa leveza – quando ele chegou na ultima arvore da clareira com um salto ele veio parar ao meu lado, com suas roupas de elfo e seu lindo cabelo loiro solto. Ele se sentou como um índio ao meu lado e sorriu.
“Oi Lana” – ouvi na minha cabeça.
“Oi Calardan-elda” – respondi.
“Vamos falar apenas por ligação psíquica, tenho medo de que possam estar nos vigiando” – ele me olhava expressivamente.
Concordei com movimento da cabeça: “Calardan, acabei ouvindo histórias sobre você e o Paul, e queria que você me contasse mais sobre, toda informação é valida pra mim”. 
“Eu sei, isso que vamos fazer é extremamente perigoso. Por isso vou responder suas perguntas de uma forma mais objetiva... Deite-se.” Ele me falou enquanto desabotoava os botões da blusa.
“Hã?” 
“Lana, pare de pensar bobagens, não vou fazer nada com você, sou casado e o Paul ia querer me matar” Ele estava rindo de mim enquanto se deitava, eu fiquei vermelha. “Eu só queria ficar confortável, minhas roupas são quentes de mais” ele se esparramou no chão. “Vamos deite ao meu lado”.
Me deitei ao lado dele na mesma posição em que ele se encontrava e quando o fiz ele entrelaçou as pontas dos nossos dedos e do nada imagens começaram a vir na minha cabeça.
“Relaxe e deixe as imagens invadirem sua mente, essas são minhas memórias, você vai ver e sentir o que eu senti. Só peço que você não se apavore, tem coisas ai que não são muito agradáveis de ver ou sentir, mas você precisa disso”.
“Okay”. 

Com isso eu fui sendo levada para um mundo de imagens e sensações que eram as memórias de Calardan.

Eu estava parada em um cenário parecido com a casa – vulgo mansão – do Paul, todos estavam no jardim coversando, lá estavam Jo, Paul, Calardan, Fred e uma mulher loira grudada ao braço de Paul – o que não me deixou nada feliz – eles estavam todos com uma feição calma e feliz. Após um tempo caminhando Paul e Calardan se afastaram um pouco dos outros.
— Você vai fazer isso mesmo Paul? – Calardan estava com a expressão levemente preocupado, seu rosto era o mesmo, mas as expressões eram mais jovens.
— Tenho, vou me livrar dessa vadia e ficar livre do controle dela. — Paul olhava para a direção do grupo do qual tinham se afastado — Tudo que eu quero fazer ele me impede, e não sei se te contei mais ela ta se envolvendo com coisas que até eu acho um tanto desagradáveis. – Paul apertou os olhos.
— E quando você vai me contar o que é? - Calardan ficou sério.
— Quando ela não estiver perto o suficiente para ouvir monsieur – ele olhou pro lado que sorriu e piscou pra ele mordendo o lábio inferior(que vadia) fazendo uma cena — Ela sempre vai dar um jeito de ouvir o que não deve. – ele sorriu lindamente para ela. — Te vejo amanhã?
— Sim.
Essa memória se dissolveu e então me encontrei em outra.

Calardan estava falando com uma elfa muito bonita, ela era branca dos olhos verde-água e tinha os cabelos pretos com mechas azuis, ele sorria com o rosto com uma expressão de felicidade que era contagiante, na hora que eu soube que ela era a esposa dele, eles conversaram mais um pouco e depois ele se levantou e deu um beijo nos lábios e outro na testa dela, com um carinho que sinceramente chegava dar uma pontada de inveja, e tristeza por ele não ter mais ela. Ele foi caminhando até a porta onde se voltou pra ela e soltou uma piscadela e voltou a caminhar.Minutos depois ele estava em um campo de flores, onde se sentou e esperou alguns segundos até uma sombra surgir no horizonte, era Paul, ele estava lindo, com uma blusa de mangas bufantes e um colete que deixava exposto parte do seu peitoral – não tanto quanto eu gostaria, mas estava bonito assim - ele caminhou e se sentou ao lado de Calardan e passou a mão nos cabelos compridos numa angustia visível.
— Não suporto mais Elizzabeth, ela está tramando algo que não é bom pra nenhum de nós. – ele disse com cara de preocupado.
— O que você acha que é? Paul da próxima vez que vier falar comigo não faça sexo antes de vir, você está com esse cheiro empreguinado em você, e é desagradável. – Calardan torceu o nariz, e um sorriso enviesado surgiu no rosto de Paul.
— Desculpe, tinha uma camponesa apetitosa de mais no caminho pra eu deixar passar. – Paul respondeu.
— Viva? – Calardan perguntou com o olhar triste.
— Non – ele respondeu.
Calardan deu um longo suspiro — Você tem que controlar seu instinto assassino – ele disse com o olhar neutro — Mas voltando ao assunto, o que Elizzabeth tem feito para cair no seu desagrado dessa forma?
— Tenho quase certeza de que ela está se envolvendo com um demônio... – ele fez uma pausa para ouvir uma resposta.
— O quê? Você só pode estar brincando. – Calardan falou apreensivo.
— Infelizmente non mon cher amie*... – o sotaque de Paul era carregado —... temo que ela está tentando controlar algo que não consegue, e que é mais esperto que ela e com isso está colocando todos nós em perigo.
— Mas que demônio é esse? – Calardan estava assustado.
— O pior deles.
— Não pode ser!? – ele ainda estava tenso.
— Fenriz.
—Merde*. – Calardan falou nitidamente nervoso
A imagem dissolveu e outra surgiu em seu lugar
Calardan estava com uma cara assustada olhando para Paul que estava distante e de costas e tinha uma poça no chão.
— Paul? O que..? – A voz de Calardan morreu e ele se aproximou enquanto Paul se virava.
O que eu vi me chocou de mais, Paul estava com uma expressão assassina no rosto, seus olhos estavam vermelhos, assim como suas mãos, seu tórax e sua boca que estavam manchadas por sangue, atrás dele tinha três corpos despedaçados, olhando um pouco além pude ver a cabeça loira de Elizzabeth separada do corpo e totalmente desfigurada, um de seus olhos estava fora da orbita, largado no chão ao lado dela, a boca tinha um rasgo lateral que ia até a orelha, e na sequencia o rasgo seguia no meio da testa com as bordas do ferimento abrindo o rasgo. Os outros corpos estavam brancos e completamente sem sangue. Todo o sangue que estava espalhado era de Elizzabeth que estava completamente destroçada.
— Paul, fala comigo! – Calardan estava preocupado – Hey o que aconteceu – ele controlou o tom de voz e Paul pareceu voltar aos poucos, apertando os olhos parecendo cansado.
— Desculpe eu estava meio fora de controle, quase te ataquei... – ele respirou meio culpado —... ainda bem que você acalmou o tom de voz, merci*. – ele caminhou até Calardan – desculpe por isso.
— O que aconteceu Paul?
— Ele firmou um contrato com o Fenriz.
— O que?
— Ele levou a Josette... – Uma lagrima vermelha escorreu pelos olhos de Paul.
— Paul me explica isso!
— Não há tempo! Depois eu te explico, corra! Vá para a sua casa. Ele enviou alguém para levar a alma de Aya. Já levaram duas, a filha do Fred , Jane foi levada e ele veio me falar, por isso matei Elizzabeth, agora só falta Aya, a Madaleine e Kayla! Corra e proteja Aya Fred foi avisar Kyle eu vou atrás da Madaleine. – Calardan estava em choque. — Corra homem! Corra para salvar a vida da sua esposa. CALARDAN CORRA E SALVE AYA! – Paul gritou e então Calardan disparou em uma corrida desenfreada.
Mais uma cena se desfez me levando de volta ao lugar de onde Calardan tinha saído.
— Aya? – ele perguntou — AYA? 
— Calardan?
— Aya está tudo be...
Duas criaturas aladas entraram na sala e deram um rasante sobre a cabeça de Aya, e ela saltou para o lado com uma habilidade de guerreira, com um salto ela foi para o lado do Calardan.
— O que está acontecendo meu senhor? – ele perguntou com a voz assustada.
— Eles querem você.
— A mim? O que eu fiz para despertar a fúria de dois demônios?
— Não foi você, Aya... Foi Elizzabeth – eles olhavam pra as criaturas que estavam pousadas como corvos nas janelas – Ela fez algo que colocou nossas vidas em perigo – ele olhou para Aya e segundos depois ela saltou com um giro para perto de um armário e jogou uma espada para Calardan e pegou um arco para si e uma aljava, os movimentos eram tão rápidos que quase não consegui ver, em segundos os demônios estavam sobre Calardan que os golpeavam com sua espada enquanto Aya atirava flechas certeiras em pontos vitais dos demônios, mas ao que parece eles não ficavam gravemente feridos. Com o tempo Calardan ficou muito ferido e Aya tinha alguns ferimentos e para piorar as flechas de Aya acabaram e os dois estavam cansados da luta, os demônios estavam cansados e feridos também, mas aparentemente não estavam bem. Os demônios atacaram novamente um se atirou em Calardan fazendo-o cair para trás enquanto o outro se lançou contra Aya e a empurrou contra parede, ela bateu a cabeça e desmaiou, aproveitando que ela estava desacorda pegou-a e saiu voando, Calardan se levantou e correu na direção deles mas o demônio escapou pela janela e o outro segurou a perna dele fazendo-o cair novamente.
_ AAAAAAAAYYYYYYAAAAAAA NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO, AAAAAAAAAYYYYAAAAAAAAA – Calaradan gritava desesperado enquanto observava Aya ser levada, com um impulso ele deu um chute na cara do demônio que restou e saltou para janela. — AAAAAAAAAAAAAYYYYYYAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.
Eu sentia toda dor que ele sentia, nenhum dos graves ferimentos era mais forte que a dor que Calardan sentia em seu coração. Ele saltou sobre o outro demônio.
— Onde vocês levaram Aya? – seu tom de voz era calmo e frio, terrível.
— Você nunca vai saber elfo.
O demônio empurrou Calardan no armário de armas, e duas adagas caíram ao lado dele, ele permaneceu parado.
— Então você está pronto pra morrer elfo? – o demônio ria — Vai largar sua amada esposa? – o demônio não percebeu, mas uma das mãos de Calardan estava sobre as adagas e seus lábios de moviam freneticamente — Vai deixar ela para nós? – o demônio jogou a cabeça para trás em uma longa gargalhada, nesse momento Calardan levantou de um salto e empurrou o demônio na parede prendendo uma de suas mãos com a adaga, fincando-a na palma, a criatura soltou um grito horrendo, e ele repetiu o ato na outra mão.
A criatura não conseguia sair da parede, Calardan pegou a espada e recitou algumas palavras na língua antiga dos elfos enquanto passava o dedo na lamina, o movimento fez parecer que ele estava revestindo a lamina com um encanto. Ele olhou com ódio para o demônio – ódio que não combinava com seu rosto – e se aproximou dele.
— Vá para o inferno, e nunca mais saia de lá!
As imagens se desfizeram e eu abri os olhos. 


A cena que encontrei foi de cortar o coração, Calardan estava sentando, uma de suas pernas estirada e a outra estava curvada, e ele apoiava seu um dos braços na perna e a outra estava apoiando-o no chão e seus olhos estavam cheios de lagrimas que escorriam pelo rosto que estava com a feição triste.
— Bom, foi isso que aconteceu Lana. – eu estava muito triste por ele, foi horrível tudo que ele viveu. Eu não resisti ao impulso e puxei Calardan num abraço, a principio ele ficou tenso, mas depois ele recostou o rosto no meu ombro e soluçou, chorando tudo o que ele não pode, pois por ser o senhor dos elfos ele devia se manter forte para todos, aumentei o aperto do abraço e ele envolveu minha cintura retribuindo o aperto, ficamos um tempo assim, e aos poucos fomos nos soltando.
—Sinto muito, muito mesmo – olhei pra ele com expressão triste e ele limpou uma lagrima do meu rosto. Não percebi que estava chorando também — Desculpe, não devia ter te abraçado.
— Não tem problema, acho que eu precisava disso – ele sorriu triste — Merci.
— Calardan, nós vamos trazer Aya de volta. Eu prometo. – ele sorriu com esperança.
— Sim nós vamos! – Preste atenção nas palavras que você vai tomar conhecimento, só assim você vai conseguir seu objetivo final. – ele ficou sério e levantou a mão tocou minha testa, em segundos uma imagem dele recitando palavras douradas surgiu na minha mente:

“Orteigh sabáht toteinum
Ecto ego enunco
Aba their trhandur
Acta duna arda solem
Expecto atra ego solum”
Isso serve para imobilizar qualquer demônio, tanto maior quanto menor, esse foi o encanto que coloquei nas adagas, mas serve para qualquer objeto que você usar para prender Fenriz. Agora ouça o próximo com o máximo de atenção:
“Ego!
Solum atra trandur...
Ego!
Aedo sanur etir...
Ego!
Kaeno sanar endor..
Ego!
Enu, elai adurnai...
Ego!
Etah euna anai
Ego! Ego!
ANAI EUNA EGO!”
Mantenha esses encantos na mente é o que você precisa para acabar com aquele demônio. 
— Obrigada Calardan-elda. – agradeci e sorri.
— Quer saber mais alguma coisa? – ele me perguntou.
— Já que você perguntou... – ele sorriu. — Paul, ele me disse que mudou, e Josette também. Você o conhece muito bem, são amigos ha muito tempo. O que você acha?
— Sim, ele mudou... Mudou para melhor, e principalmente mudou por você. Você viu uma cenas fortes dele comigo, e em todas ele tinha matado alguém, a primeira moça ele matou sem motivos... Ele era assim, tinha o instinto assassino muito forte, ele tinha prazer em ter uma mulher e em seguida mata-la, ele se sentia bem e vivo fazendo isso. Paul conquistava mulheres abusava do corpo delas e em seguida matava de alguma forma brutal, ele nunca pensou uma pessoa para quem voltar depois de um dia de trabalho. Ele sempre foi do tipo conquistador cafajeste, cansei de ir encontrar com ele e ver uma cena desagradável dele “fazendo” algo com alguém, seduzindo alguém, cheirando a sexo... Mas agora ele não é nem de perto o cara que fazia essas coisas, desde que você chegou ele não faz mais isso.
Eu estava perplexa com a clareza com que ele explicitava as coisas — Calardan... Esse cheiro te incomoda? É ruim?
— Não me incomoda se for meu, se for de outro homem me incomoda, principalmente porque é uma questão de macho alfa... – ele disse e franziu o nariz – E você não sabe como é o cheiro? Lana você é virgem?
— WOA ... – me engasguei — Como entramos nesse assunto?
— Você é virgem! – ele sorriu
— CALARDAN!
— Se eu fosse você, do jeito que você gosta de Paul, não perderia tempo... Afinal nós temos uma grande possibilidade de um óbito geral! – ele ria
— Calardan isso é coisa de dizer pra uma moça? – eu estava agitada e não sabia para onde olhar.
— Desculpe, não temos essa restrição no meu povo, isso é um tema livre e simples que ninguém tem vergonha de falar, é da nossa natureza. – ele disse com um sorriso calmo.
— Ah isso explica a naturalidade que você explicita as coisas.
Ele riu novamente
— Bom Lana se eu fosse você pensaria sobre isso.
— Tudo bem, vou pensar. – eu fiquei com vergonha e atrapalhada.
— Quer que eu te leve em casa?
— Não, não... Obrigada... – sorri — A não ser que você queira ir junto...
— Já que você não quer companhia vou adiantar outro compromisso.
— Okay, obrigada Calardan-elda.
— Não precisa mais usar esse “elda” acho que depois de hoje... – ele sorria. —... Agora somos amigos certo!? – ele piscou e saltou para a árvore saltando com calma.
Comecei a caminhar de volta pensando em tudo que eu ouvi, e as coisas que Calardan me mandou considerar!



N/a: *Non mon cher amie = Não meu caro amigo
* Merde = Merda