segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Danger Line #28



Passei a noite inteira em claro observando Paul, pude perceber como o seu corpo estava se recuperando, às vezes eu podia ouvir ossinhos estalando porque estavam voltando ao lugar de origem, tinha horas que ele reclamava de dor e tinha horas que ele ficava com a respiração calma e normalizada o que me aliviava um pouco e fazia os músculos do meu copo relaxarem, porque eu estava tão tensa quanto uma taboa de madeira. Olhando Paul dormir nem dá pra imaginar que ele é um vampiro tão velho e forte que se atracou quase que mortalmente com alguma coisa por ai.
Os cabelos dele estavam revoltos em sua cabeça, pareciam ter vida própria, era um charme, dei um sorriso bobo e olhei para janela, lá fora o céu estava azul e estrelado, nem parece que tem tantas coisas malignas acontecendo.
— Observando as estrelas chérie? – a voz de Paul me tirou do meu devaneio.
— Você não devia estar dormindo? – rebati.
— E você também não? – ele sorriu.
— Mas eu estou aqui pra cuidar de você! Como eu vou dormir com você estalando a cada dois minutos? – perguntei levantando a sobrancelha de um jeito que eu não sabia que podia fazer.
— Vai jogar na minha cara mesmo? – ele riu — Eu sei que eu estou mal e “estalando” – ele enfatizou a palavra com os dedos o que carregou muito mais seu sotaque francês — Mas não precisa ficar acordada por minha culpa!
— Eu me preocupo com você! – eu respondi.
— Você me ama. – ele disse com uma calma incrível, como se isso fosse a única verdade no mundo que dava sentido a tudo.
— É acho que amo, mas não sei se devia... – desviei o olhar por um segundo.
— Devia sim, já que meu amor tem que ser correspondido! – voltei a encara-lo, em sua voz não havia nenhum traço de brincadeira.
Olhei para baixo meio sem graça — Então você me ama? Mas assim... Ama mesmo? – perguntei mexendo numa mecha do meu cabelo...
— Chérie... – ele me olhava fixamente —... Venha aqui e sente-se ao meu lado. – Obedeci e sentei com cuidado ao lado dele para não machuca-lo — Chérie você sabe que sou um velho, é duro admitir, mas sou muito velho e já sei muito bem distinguir um amor de uma paixonite...
— Provavelmente você já ficou com muitas mulheres... Deve saber mesmo... – então eu senti um ciúme muito forte.
— Sim... – ele continuou calmo, porém ele sabia onde eu queria chegar... — Lana eu estou vivo a muito tempo, já fiquei com mulheres mais velhas, da minha idade humana, mais novas, loiras morenas e ruivas, altas, baixinhas. Já seduzi, já forcei, já fiz de tudo que a sua cabecinha imaginar... Nunca te disse ser um homem... Digo vampiro bom, sempre fui um... Safado, para não dizer coisa pior. Jo sabe de tudo... Pergunte a ela.
— Não sei o que dizer... – respondi.
— Não diga nada... Converse com Josette e pergunte como eu era e no que você me transformou – ele sorriu.
— Okay farei isso...
— Mas, por favor... Não se assuste e nem fique me odiando, meu passado é passado. Você é meu futuro agora e eu não estou disposto a te perder...
— Tudo bem, vou fazer o possível para não misturar seu passado com o presente.
— Merci. – ele sorriu para mim e deitou-se para repousar novamente.
É bom que ele descanse mesmo, ele vai precisar estar bem para o fim de semana. Sem o que fazer, fui procurar Josette, se ele quer que eu saiba as coisas que ele fez é porque quer alguma coisa comigo e não quer esconder nada de mim.
Bom eu acho.
Bati na porta do quarto dela e logo depois ouvi um “Entre Lana”.
Empurrei a porta e ela estava sentada com um livro na mão...
— Aconteceu alguma coisa Lana – ela me perguntou com seu inconfundível sotaque francês carregado.
— Não exatamente Jo, Paul me disse para vir aqui te perguntar sobre o passado dele. – ela sorriu.
— Que parte do passado dele? – ela me perguntou.
— Ele me disse que não era um cara “bom” – sinalizei com os dedos a palavra “bom” – E disse que já ficou com muitas mulher e que as vezes nem era... Gentil... Digamos assim, com elas... – fiquei meio envergonhada de perguntar isso a ela, mas eu estava curiosa.
— Nossa ele quer que eu te conte o canalha que ele era... – ela estava levemente surpresa, o que me deixou mais curiosa... Ainda mais porque que ela usou o termo “canalha” — Bom eu conto, mas não fique muito alterada, ele mudou completamente depois da sua chegada.
— Nossa ele era tão ruim assim? – perguntei.
— Era pior... Sente-se – ela deixou o livro de lado e se acomodou na cama de pernas cruzadas fazendo sinal para me sentar. — É pior do que você imagina e vou ter muita coisa para contar... Mas ele teve alguns motivos para ser como foi... Depois que aquela mulher destruiu a vida de Paul transformando ele em um vampiro ele, desistiu te der uma vida normal e honrosa, fazia sempre o que queria sem se importar com as consequências das suas ações. Ele seduzia muitas mulheres, algumas ele até matava.
Ele já forçou uma jovem a ser dele envergonhando a ela e a família dela, pois na época ter uma filha violada era o maior sinal de vergonha de uma família. Essa garota foi deserdada por culpa dele. Ele já destruiu famílias seduzindo as mulheres, já matou clãs inteiros por querer uma mulher...
— Como ele conseguiu matar todos de um clã? Clã não são famílias com poderes? Tipo elfos, anões, lobos, vampiros etc? – eu interrompi ela. — Ele não teria sobrevivido.
— Lana somos um dos clãs mais antigos daqui de Paris, o que nós faz muito mais poderosos do que outros clãs. Alias Paul e eu somos uma das famílias de vampiros mais antigas que restou após o ultimo ataque de Fenriz. Você não faz ideia da dimensão do poder de Paul. Você sabe por que ele está ferido assim? – ela me perguntou e eu fiz sinal negativo com a cabeça. — Porque ele lutou com um demônio! Sabe quantas criaturas mágicas lutaram com um demônio e estão vivas? – fiz que não com a cabeça de novo. — Três! Apenas três pessoas fizeram esse feito, contando com o Paul, a outra e um de seus mestres. O Calardan. A outra pessoa é uma fada que vive no norte da Inglaterra.
— Calardan lutou contra um demônio? Como assim? – esqueci momentaneamente das coisas que Paul fez, afinal todos me dizem que ele mudou.
— Sim, mas essa é uma pergunta que você deve fazer a ele. – ela sorriu. — Ele vai te contar e isso vai te ajudar um pouco, já que agora só temos mais dois dias até a invocação dele...